Acredito que a maior dificuldade do ser humano é amar. Amar somente. Não necessariamente amar algo ou alguém. Certamente um objeto definido é mais “fácil”, por assim dizer, de amar. Mas amar, verbo indefinido, é dificílimo. Ainda assim, vejo “eu te amo” por todo lado. Todo mundo diz, escreve e canta, e sem a menor propriedade, “eu te amo” com uma facilidade absurda. Mas à menor dificuldade não ama mais. Ao menor esforço, sai correndo. Desiste. E então arranja outro “amor” tão rápido quanto um trem-bala numa estação em cima do gelo. “Te amo, desde que estejas perto”. “Te amo, desde que sejas meu”. “Te amo, desde que sejas como quero”. Se amar é condicional, não se ama. Se amar é um corolário lógico da facilidade, não se ama. E em meio a essa dificuldade verdadeira de amar, estão por aí os “eu te amo” enfeitando os cartões de aniversário, as mensagens nos perfis das redes sociais e os bilhetes de namorados. Conheço pessoas que, para cada par romântico, dizem um estrondoso “eu te amo” e riscam a sua liturgia com muitas coisas lindas para exaltar esse sentimento. E então, num dia qualquer, deixam de amar para automaticamente amar outro e então outro. E isso me cheira a sarcasmo num mundo em que falta amor e sobra discórdia. Mal conheci e aquela vontade de ver, de sentir e estar perto e o “eu te amo” chega a ser um rito formal e até esperado. Se não disser? Está fora do jogo do sentimento – esse que requer a todo o tempo a reciprocidade em qualquer ato e na mesma medida. E então se pensa que quem não diz não ama, ou ama pouco, ou não quer o suficiente. Mas amor, esse sentir que mais que verbo é filosofia e síndrome, este está em desuso, justamente porque de usado não tem nem teve nada. Não sabemos nada, ou pouco sabemos a respeito. Amar um filho é biológico. Amar um pai é antológico. Amar um estranho é esperar demais. E ainda assim, nas raras vezes em que verdadeiramente lidamos com esse sentimento, ainda que indiretamente ou mesmo de longe e aos poucos, colocamos limites a ele. E fico pensando se amor tem limite - temporal, espacial, filosófico ou metafísico - o que me revela que se há limite, não pode ser amor – ao menos o tal amor de que falam os tratados idílicos. De qualquer forma, e premissas à parte, amor é coisa intangível. E, nesse mundo, parece ceder a um pacto antenupcial. Ou mesmo à rotina. Ao tempo. Às ilusões. Amor humano, então, vira utopia. Um norte impossível, inusitado. Devíamos repensar os “eu te amo” deixados a esmo pelos caminhos...