7 de junho de 2011

Oração

Que eu me permita olhar, escutar e sonhar mais.

Falar menos, chorar menos.

Ver nos olhos de quem me vê a admiração que eles me têm e não a inveja que prepotentemente penso que têm.

Escutar com meus ouvidos atentos e minha boca estática as palavras que se fazem gestos e os gestos que se fazem palavras.

Permitir sempre escutar aquilo que eu não tenho me permitido escutar. Saber realizar os sonhos que nascem em mim e por mim e comigo morrem por eu não os saber sonhos.

Então que eu possa viver os sonhos possíveis e impossíveis; aqueles que morrem e ressuscitam a cada novo tempo, a cada nova flor, a cada novo calor, a cada nova geada, a cada novo dia.

Que eu possa sonhar o ar, sonhar o mar, sonhar o amar...

Que eu me permita o silêncio das formas, dos movimentos, do impossível, da imensidão de toda a profundeza.

Que eu possa substituir minhas palavras pelo toque, pelo sentir, pelo compreender, pelo segredo da coisas mais raras, pela oração mental (aquela que a alma cria e que só ela, alma, ouve e só ela, alma, responde).

Que eu saiba dimensionar o calor, experimentar a forma, vislumbrar as curvas, desenhar as retas, e aprender o saber da exuberância que se mostra nas pequenas manifestações da vida.

Que eu saiba reproduzir na alma a imagem que entra pelos meus olhos fazendo-me parte suprema da natureza, criando-me e recriando-me a cada instante.

Que eu possa chorar menos de tristeza e mais de contentamentos.

Que meu choro não seja em vão, que em vão não sejam minhas dúvidas.

Que eu saiba perder meus caminhos, mas saiba recuperar meus destinos com dignidade.

Que eu não tenha medo de nada, principalmente de mim mesmo: - Que eu não tenha medo dos meus medos!

Que eu adormeça toda vez que for derramar lágrimas inúteis, e desperte com o coração cheio de esperanças.

Que eu faça de mim um homem sereno dentro da minha própria turbulência, sábio dentro dos meus limites pequenos e inexatos, humilde diante das minhas grandezas tolas e ingênuas (que eu me mostre o quanto são pequenas as minhas grandezas e quanto é valiosa a minha pequenez).

Que eu me permita ser mãe, ser pai, e se preciso, ser órfão.

Permita-me ensinar o pouco que sei e aprender o muito que não sei, traduzir o que os mestres ensinaram, e compreender a alegria com que os simples traduzem suas experiências; respeitar incondicionalmente o ser; o ser por si só, por mais nada que possa ter além de sua essência, auxiliar a solidão de quem chegou, render-me ao motivo de quem partiu e aceitar a saudade de quem ficou.

Que eu possa amar e ser amado. Que eu possa amar mesmo sem ser amado; fazer gentilezas a quem me dá carinhos; fazer carinhos mesmo sem receber gentilezas.

Que eu jamais fique só, mesmo querendo ficar só.

Amigo (a)


Há preocupações nossas no ar, a todo instante. A vida teima em deixar nossas testas franzidas, nossos olhares no além-do-aqui ou, mesmo, em nossas bocas o sabor do que um dia veio ou do que ainda virá.

Estas preocupações logo se revelam tolas, sem fundamento, pois tudo se resolve, com o correr do tempo, inclusive as mais complexas mealhas existenciais. E nós não confiamos no tempo. Teimamos em dele sermos donos. Desejamos tê-lo sob o nosso absoluto controle.


Com o tempo eu e ti vamos aprendendo a lidar com tudo isso. Pois viver é uma saga imperdível, cheia de vislumbres e intensa em todos os sentidos. E que bom é termos pessoas que sentem nossos sentidos, compartilham nossos olhares, postam-se ao nosso lado e ambos colocamos nossos olhares em direções unicêntricas. Bom mesmo é aprendermos a viver bem, carregar somente as dores necessárias, relevar as desnecessárias, tornar leves os fardos uns dos outros.


Bom mesmo é termos pessoas suaves ao nosso lado, que suportem nossas dores recíprocas e nossas mazelas temperamentais. E indiscutivelmente recíprocas.


Quero te dizer da alegria que é passar por aqui e te ver por entre essas linhas. Desejo que encontres o caminho possível, a alegria suficiente, a leveza certa, a companhia que lhe deixa feliz e com um sorriso permanente no rosto, inclusive ao deitar-se e ao amanhecer amarrotado(a).


Desejo que a Graça impere e que as nossas preocupações venham sempre e esvaiam-se sempre, por meio d'Ela. E que elas se tornem, para nós, suportáveis sempre mais. E superáveis igualmente.